Disciplina de Audiovisual dentro do curriculo

"A opção por “audiovisual” e não “cinema” deve-se principalmente a essa relação com a cultura, política e educação, entendendo o audiovisual dentro de um contexto de sociedade. A educação audiovisual possui exercícios que dialogam diretamente com o cotidiano do aluno, na sua leitura e produção de imagem, fazendo o pensar o seu lugar diante da produção da realidade através das imagens.
Pensar o audiovisual na educação possibilita problematizar todas as relações produzidas seja na própria produção, ou no conteúdo que se produz ou como síntese de múltiplas determinações das relações sociais. A própria utilização do audiovisual na educação reflete a condição história do porquê do aumento no uso na educação e o seu entendimento como produtor de conhecimento e não mera reprodução seja de formato ou de conteúdo.
Como produtor de conhecimento, a educação audiovisual precisa de uma construção em etapas e principalmente com maior tempo para que o conhecimento seja assimilado. Diante dessa trajetória, o aluno passa por desconstruções e construções do papel da imagem e a construção de narrativas e de estéticas. Assim, o filme Nossa Música, do diretor Godard, reflete essa educação audiovisual a partir principalmente da minha prática como professor na escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e por isso será usado nesse texto para demostrar as etapas de construção de conhecimento.
O fazer/pensar corrobora para uma atividade que indica caminhos que quebrem os padrões do pensamento industrial e estimulem o fazer artístico, sem se esquecer da realidade do sistema em que os espectadores/realizadores estão inseridos e, até mesmo, apropriando-se dos elementos expropriadores do espírito artístico para recompô-lo e renová-lo criticamente. Permitir ao aluno uma experiência e uma produção de conhecimento que faz com que esses próprios alunos se reconhecessem dentro do universo cinematográfico. Uma forma de aguçar o espírito artístico de cada um por meio das tecnologias audiovisuais, que estimulariam a esfera da autonomia criativa. O aluno vai abrindo caminhos para relacionar fenômenos e processos sensíveis e criativos além de também elaborar problematizações historicizada sobre a realidade social atual.
O filme Nossa Música do diretor Godard expõe o espectador a imagens e a uma narrativa com múltiplas interpretações e variações poéticas que permitiram criar uma analogia com o processo de Educação Audiovisual que proponho para meus alunos. O filme divide-se em três partes: inferno, purgatório e paraíso; definindo nessa ordem, os movimentos temporais de passado, presente e futuro, que marcam o ritmo do filme. Na tela preta é exibido o filme no ambiente do cineclube da Escola, possibilitando a imaginação em oposição aquilo que é apresentado pelos cinemas comerciais dentro da lógica que Adorno chamou de indústria cultural. (ADORNO e HORKHEIMER, 1985)
Uma leitura do inferno é apresentada nas primeiras imagens do filme e há um incomodo por parte dos alunos em relação àquelas imagens. Em seguida Godard demonstra a dor de muçulmanos e sérvios da guerra e suas consequências. As imagens da dor são apresentadas através de cores berrantes, disformes e indefinidas, além do preto e branco. Os dez minutos das imagens do inferno são ilustradas por pessoas humilhadas e torturadas, armas e corpos dilacerados, remetendo as guerras do passado.
A montagem lembra a série de documentários da Histoires du Cinéma, revisão crítica de Godard sobre a cinematografia mundial. Em Nossa Música, as imagens buscam a complexidade dos conflitos entre as nações. Uma voz em off diz: ''Podemos encarar a morte de duas maneiras: o impossível do possível ou o possível do impossível. Ou ainda: o 'eu' é outra pessoa'‘. (VIEIRA, 2004)
Essas imagens dialogam com o diagnóstico realizado por Benjamin (1994) sobre a crise da cultura moderna e o progresso científico, industrial e técnico posterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918); demonstram a contradição da linearidade do progresso racional da história que corresponde à guerra, destruição e empobrecimento da experiência humana. Uma sociedade que atende às necessidades dos estímulos instantâneos do presente dominado pela mercadoria na qual tudo vira espetáculo (DEBORD, 1997) e submetido à repetição, disfarçada em novidade."

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