CARTA DE OURO PRETO 2023

XIV Fórum da Rede KINO – Rede Latina Americana de Educação Cinema e Audiovisual

A Rede Kino – Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual – foi fundada em agosto de 2008. Atualmente, constitui-se por 184 representantes da sociedade e articula ações que envolvem todas as regiões brasileiras, tendo representação também na Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Cuba, Uruguai, México e Peru.

A pluralidade, diversidade e amplitude da Rede se expressam nos Fóruns anuais de Cinema e Educação que vêm ocorrendo na Mostra de Cinema de Ouro Preto, CineOP. Neste período foram apresentados mais de 100 projetos de educação audiovisual digital e analógica vinculados a universidades, organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, secretarias estaduais e municipais de educação e cultura, escolas, territórios de fronteira, espaços de saúde, cineclubes, escolas do campo, quilombos e aldeias indígenas. Parte significativa dessa produção está densamente debatida no âmbito acadêmico e nos mais de 40 livros impressos e um número ainda maior de ebooks lançados apenas nos últimos três anos.

Um total de mais de 180 filmes produzidos nesses contextos foram apresentados nas Mostras KINO ao longo dos últimos anos. Essas obras são selecionadas a partir de chamadas públicas para toda América Latina, o que revela a existência de um universo mais vasto de realizações audiovisuais produzidas. Destacamos que essas experiências atravessam todos os níveis de ensino, promovendo práticas pedagógicas que articulam o cinema e as tecnologias digitais com a singularidade de cada território, instigando professores, funcionários, estudantes, famílias e comunidades na construção compartilhada de conhecimento.

Ao longo dos últimos 15 anos, a Rede KINO produziu 13 cartas como esta, documentos propositivos que apontam para a consolidação de políticas públicas para a educação, cinema e audiovisual e denotam a relevância da Rede no fomento de programas, projetos e ações em todo o Brasil, bem como em outros países da América Latina. Nestas linhas de ação ressaltamos: 1) participação no GT de discussão para a regulamentação da Lei Federal 13.006 de 2014, que determina a exibição de duas horas de filmes brasileiros por mês nas escolas e cujo texto final foi entregue ao Conselho Nacional de Educação em 2016; 2) realização de curadorias de obras audiovisuais com vistas à constituição de um Acervo Audiovisual Escolar Livre, em português e espanhol; 3) formação de novas audiências críticas e atentas a cinemas diversos e acessíveis; 4) invenção, implementação e acompanhamento de práticas pedagógicas integradas à obrigatoriedade do ensino de história afro-brasileira e indígena; 5) formação de professores e estudantes em todos os níveis e modalidades de ensino, com atenção à diversidade étnico-racial e de gênero, visando à produção de tecnologias audiovisuais acessíveis, com atenção às populações mais vulneráveis.

Neste ano, centralizamos nossos esforços na leitura crítica e criativa da Política Nacional de Educação Digital, instituída em janeiro de 2023, a partir da publicação do livro Cinema e educação digital: A Lei 14.533 – Reflexões, perspectivas e propostas. Nesse sentido, o XV Fórum da Rede Kino tomou este debate como eixo articulador de seus debates.

Nosso diagnóstico revela a necessidade de uma Política Nacional de Educação Digital – PNED – que inclua o audiovisual como um de seus eixos estruturantes, tendo em vista que 82% do conteúdo digital que circula na internet é audiovisual. Dessa forma, com base em nossa experiência, um eixo audiovisual atua na transversalização, descentralização e territorialização da educação digital em todo o Brasil, tendo potencialidade de incentivar a adoção de leis e políticas semelhantes em outros países latino-americanos.

Nessa perspectiva, defendemos uma PNED que garanta o acesso básico da escola pública a equipamentos, formação e tecnologias assistivas e, especialmente, uma educação digital crítica alinhada a processos criadores e inventivos de mundos mais justos, menos desiguais e menos violentos. Vale ressaltar que a educação digital precisa ser elaborada em articulação com a educação analógica sem de modo algum suplantá-la.

Pensamos, portanto, uma educação digital que não sirva estritamente aos interesses de uma inovação industrial e mercadológica, à compra e venda de novos aparelhos tecnológicos, forçando uma obsolescência programada com impactos ambientais irreversíveis e um excessivo consumo de energia que coloca em risco a sustentabilidade da vida planetária.

Queremos um digital que nos aproxime e fomente a invenção de um comum, promovendo o intercâmbio de saberes, sempre localizados e provisórios, nunca universalizantes. Uma educação digital que seja, ela mesma, pensamento sobre a tecnologia e seus processos subjetivantes.

Desta forma, a Rede Latino Americana de Educação, Cinema e Audiovisual se posiciona como interlocutora legítima e qualificada dirigindo-se às instâncias federais abaixo relacionadas para construirmos juntos uma Política Nacional de Educação Digital:

Ministério da Educação (MEC)
Ministério da Cultura (MinC) | Secretaria do Audiovisual Agência Nacional de Cinema (Ancine)
Rede Nacional dos Pontos de Cultura
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Ministério das Comunicações (MCom)
Ministério das Relações Exteriores (MRE)
Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDH) Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) Ministério dos Povos Indígenas (MPI)
Ministério da Igualdade Racial (MIR)
Ministério das Mulheres
Congresso Nacional

Ainda que tenhamos destacado aqui instâncias da administração federal do Estado Brasileiro, onde a Lei encontra-se em discussão neste momento, entendemos que a educação digital implica um pensamento sem fronteiras, envolvendo todas as demais esferas administrativas e seus agentes públicos e privados, bem como toda a sociedade civil. Neste sentido, defendemos a atuação de membros da Rede Kino na problematização, formulação, implementação e avaliação de políticas públicas que garantam uma educação digital efetivamente justa, diversa, inclusiva e democrática.

Ouro Preto, 25 de junho de 2023
Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual

Profanações

O novo livro de Giorgio Agamben, Profanações, “trai” o leitor com a aparente simplicidade dos seus ensaios curtos. É uma coletânea sobre temas de estética, literatura e filosofia, como: pornografia, paródia, desejo, magia, natureza do autor, fotografia, entre outros. Mas, como em uma narrativa composta de episódios, de pequenas peças que se juntam conforme se avança na trama, os ensaios de Agamben revelam, em seu conjunto, uma discussão de fundo sobre estética e política. É um trabalho inovador, de um dos mais importantes e polêmicos filósofos da atualidade, autor de Estado de exceção (Boitempo, coleção Estado de Sítio) e Homo sacer: o poder soberano e a vida nua.

O Espectador Emancipado

O Espectador Emancipado reúne algumas das conferências proferidas por Jacques Rancière em universidades, museus e outros centros de arte entre 2004 e 2008. Elogio do espectáculo, no qual se incita o espectador a afirmar a sua capacidade de ver e analisar o que vê, este volume de ensaios contraria uma das mais antigas premissas da estética – a de que aquele que vê não sabe ver – para oferecer ao receptor um papel activo na compreensão da arte. Uma vez mais, a política e a arte em constante diálogo, sem jamais se confundirem.

O mestre ignorante – Cinco lições sobre a emancipação intelectual

Esse livro conta a história de Joseph Jacotot – professor, militante ardoroso do Século das Luzes que, confrontado, em 1818, a uma situação pedagógica inaudita, é levado a romper com todos os pressupostos existentes sobre as condições básicas do ensinar. A partir de então, Jacotot transformou radicalmente suas idéias e sua prática, oferecendo uma resposta à altura desse desafio. Mas não se tratou, para ele, apenas de conceber um método, um sistema, ou uma proposta pedagógica revolucionários; Jacotot deu início, a partir daí, a uma aventura intelectual incessante,dessas que bem merecem o título de filosóficas, capazes de pôr em questão os sentidos instituídos do ensinar e do aprender. A igualdade como princípio, a emancipação como método: quem ainda hoje ousaria negar a radicalidade de sua proposição?

Dossiê Cinema e Educação #2: uma relação sob a hipótese de alteridade de Alain Bergala / Coleção Cinema e Educação

Este volume da coleção Cinema e Educação completa o Dossiê sobre “Cinema e Educação sob a relação da hipótese de alteridade”, no qual diversos pesquisadores e professores que trabalham nessa interface refletiram sobre o livro “Hipótese-cinema, pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola”, do professor e cineasta Alain Bergala. A gestão de Bergala como consultor de Jack Lang e Catherine Tasca, ministros de educação e cultura da França respectivamente, durante o projeto Mission, no que diz a introdução do cinema nas escolas públicas, teve repercussões significativas para além da França, que chegam inclusive até nós.

Os dois volumes do Dossiê evidenciam a riqueza dos desdobramentos que o relato da experiência de Bergala, introduzindo cinema nas escolas públicas francesas nesse livro, teve como desdobramentos. Entender o cinema como um outro, que entra na escola para provocá-la com o ato criativo, tem cativado professores e cineastas, pesquisadores e realizadores em diversidade de projetos.

Dossiê Cinema e Educação #1: uma relação sob a hipótese de alteridade de Alain Bergala / Coleção Cinema e Educação

Este exemplar da coleção Cinema e Educação quebra com a tradição de socializamos alguns produtos do trabalho do grupo de pesquisa e extensão Cinema para Aprender e Desaprender ano a ano. Desta vez, a equipe CINEAD privilegiou a escrita de outros interlocutores, cujas leituras do principal referencial deste projeto, Alain Bergala, em particular com sua obra “Hipótese-cinema. Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola” foram publicadas em um dossiê da Revista Contemporânea de Educação RCE, volume 9, deste ano. Como se trata de uma revista on line, consultamos os autores e decidimos publicar em versão impressa apenas aqueles textos do dossiê temático, já que a revista na sua versão virtual inclui outros interessantes artigos que não guardam relação com a proposta específica.

Aprender com Experiências do Cinema: desaprender com imagens da educação

Coordenada pela pedagoga e psicopedagoga Adriana Fresquet, e apresentada pela professora Milene Silveira Gusmão, a obra reúne textos de professores e especialistas sobre o tema: Márcia Xavier, Paulo Henrique Vaz, Hernani Heffner, Janaína Pires Garcia, Ana Lucia Soutto Mayor, Verônica de Almeida Soares, Gisela Pascale, Bruno Pontes, Iara Machado, Arendt, Vanessa Neves Martins, Gregório Galvão Albuquerque, Betânia Pimenta Dávila, Estevão Mabilia Meneguzzo, Marina de Freitas Garcia, Eliana Cunha e Bruno Bahia.

De acordo com a apresentadora, os textos restauram a importância das vivências que se dão a partir das experiências cinematográficas para a formação de novos cidadãos, seja nas sessões dos cineclubes, nas vivências do cinema no recreio, seja na feitura dos minutos Lumière, nos aprendizados entre as gerações a partir das ações práticas da Escola de Cinema do Colégio de Aplicação CAp/UFRJ) ou nas reflexões e discussões acadêmicas do projeto Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD).

Novas Imagens do Desaprender: uma experiência de aprender cinema entre a cinemateca e a escola / Coleção Cinema e Educação

Uma experiência de aprender cinema entre a cinemateca e a escola. Este livro reúne textos sobre estudos e práticas que articulam cinema e educação produzidos pelo projeto de pesquisa e extensão Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD/UFRJ). E, também, apresenta as mudanças teórico-metodológicas introduzidas em 2008, no curso de Extensão Universitária.

Imagens do Desaprender: uma experiência de aprender com o cinema / Coleção Cinema e Educação

Este livro sintetiza um apaixonado esforço em busca de uma nova forma de aprender a partir da experiência do cinema. Para construí-la, ele nos ajuda a desaprender, desconstruir aprendizados, para poder tomar consciência dos preconceitos e desvalores que carregamos misturados com valores e verdades desde os primeiros anos. Desaprender é algo complexo e nada óbvio. Consideramos que a sétima arte torna o desaprender uma possibilidade pela sua capacidade única de comunicação simultânea aos sentidos, emoções, sentimentos, memória, entendimento e por favorecer alguma forma de movimentação no espaço e no tempo. O livro faz um balanço do primeiro ano de trabalho do projeto e seu produto evidencia quanto podemos aprender do cinema, sem necessidade de pedagogizá-lo, de minimizá-lo como se fosse uma ferramenta didática. É quase um convite para ir ao cinema e desaprender com o leitor. É, também, uma proposta de um novo olhar, tanto para professores e alunos quanto para o público em geral, por meio das atividades de Extensão Universitária e das parcerias extra-universidade, como a estabelecida com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM-Rio) e o Cinema em curs, de Barcelona.

Cachoeira de Filmes: o cinema Humberto Mauro como espaço de exibição e resistência

O livro Cachoeira de Filmes apresenta a história do Cine Humberto Mauro, sediado no Palácio das Artes, e de seu patrono, o cineasta mineiro que dá nome ao espaço. Entre histórias e casos do artista, o livro apresenta a cronologia das atividades da sala de cinema, criada em 1978, além de entrevistas com ex-coordenadores do espaço, fotos e materiais gráficos raros de mostras e festivais.

A obra está disponível para download em: http://ataidesbraga.blogspot.com.br/2011/10/download-de-parte-do-livro-cachoeira-de.html